Há cafés e cafés

Você já percebeu  que todo mundo tem uma opinião sobre como fazer café? Há os que juram que a prensa francesa é a única maneira de fazer um bom café. Aí vem a turma do café expresso que acha que não se deve sequer olhar para um bule de café coado. Café em garrafa térmica então? É um sacrilégio. E os que só admitem café coado com água a exatamente 90 graus? Fico pensando: no final das contas, não estamos todos apenas tentando acordar?

E o que dizer das máquinas de café? Umas têm cara de nave espacial. Botão para tudo! Um botão para moer, um botão para aquecer, um botão para lembrar que se está vivo! Mas no fim, você só quer um café que não tenha o efeito de um tiro de canhão.

E quando você vai à casa de alguém e perguntam: “Aceita um cafezinho?”. É pra ser sincero ou a boa educação exige um sim? Me parece que todo brasileiro é obrigado a amar café e não pode dizer não. Na verdade,  nunca se sabe o que esperar. Com um “Sim”  entra-se na área de risco. E o que dizer da pergunta infalível “Açúcar ou adoçante?”. No meu caso, é uma saia justa, pois terei que explicar porque gosto de café preto, desde quando, e se sou diabética.  Me sinto uma raridade, peça de antiquário. Já bebi infusões sinistras, daquelas de tomar um gole e a boca instantaneamente entrar em desespero. O que é isso? É café ou uma mistura de areia e carvão? Engulo? Cuspo? Corro para o banheiro?

As butiques de café então, com um sortimento enorme de grãos do mundo inteiro, são uma experiência ímpar. Afinal, querem vender café ou ensinar geografia para os clientes? Será que precisamos ter um mapa mental da origem dos melhores grãos para apreciarmos aquelas preciosidades?  

Só há uma certeza: você vai perder longos minutos ouvindo uma quase infinda lenga-lenga sobre o reino da cafeína. Tudo  para correr o risco de errar nas escolhas, ou de aceitar sugestões do barista e  também errar. Até se chegar ao ponto de saber o que pedir, haverá experiências distintas que darão certeza de que café não é para amadores. Já conheci exemplares de um amargor profundo, capaz de trancar a mandíbula e eu temer nunca mais conseguir abrir a boca. E os de acidez pior que um refluxo gastroesofrágico? Quase derretem a xícara!

O melhor é sorrir e dizer “Delicioso!” porque no fundo, todo mundo só quer a mesma coisa: um pouco de energia e a promessa de um dia produtivo. E quando se termina a xícara, percebe-se que, pensando bem, o que realmente importa é conseguir uma pausa para respirar. 

E aí você se pergunta: será que preciso de mais café para aguentar tudo isso?

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