Crônicas
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Minha língua mãe
Minha língua mãe, o português, é herança. Chegou por aqui dura e engomada, e, ainda bem, foi por nós suavizada. Seus sons se abriram, adoçando os ouvidos e ganhando ritmo mais alegres, leves e divertidos. Gosto do que herdei. Uso e abuso, e os empréstimos me contentam. Uns ficam e outros se diluem, fracos e impotentes. Ganhei palavras para me expressar ao usar. Palavras são um jogo, um bingo de letras. Se juntam e nos revelam muito de suas origens, e também determinadas épocas, as ditas datadas. Muitas caem em desuso. Outras se enraízam, e se eternizam. Meu avô, diziam, estava com surmenage. Credo! Prefiro mais estresse — obrigada, Tio…
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O retorno do amigo perdido
Até que enfim você chegou! — Desculpa, me atrasei. Saí do cartório com as firmas reconhecidas e vi um sebo novo pra mim. A curiosidade me venceu, entrei — só pra apreciar seu interior, sentir o cheiro dos livros. Foi a melhor coisa que fiz. Encontrei um amigo que não via há tempos. — E ficou de conversa… — Ah, foi um feliz acaso. — Acaso? Desde quando você acredita nisso? — Chame de destino, se preferir. Recuperei um grande conhecido, isso sim. — E quem é ele? — Você não vai acreditar. A conversa esquenta. Ela fala com brilho nos olhos. Seu amigo se cala, curioso. Tira da bolsa…