O Que Resta

Não mais beijos vermelhos a te devorar.
São líquidos distantes, que escorrem sem fim,
grudam, queimam, te arrancam a pele.
O tato sedento a se desmanchar
como voz de papel molhado entre teus dedos — e medos.

A carne, de avesso sangrento, implora.
Berra entre gritos e sussurros
num escuro silencioso, fétido,
de bafo murcho e pontiagudo que fere.

Passas as mãos no corpo em brasa e areia —
não mais cobertura lisa, mas poeira quente, feia,
que recusa te olhar e exala repulsa.
Quase desfaleces.

Ela fala em língua de mofo
e se veste em cor de ausência.
Ainda assim, apesar de maltratada,
insistes. Pedes que fique, que te enleie.

Agora sem viço, inodora, incolor…
Sim. E mesmo vestida de frio, com gosto de esquecimento,
se esforça para te cobrir e proteger.
Tudo para que continues a ser.

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