Minha língua mãe
Minha língua mãe, o português, é herança. Chegou por aqui dura e engomada, e, ainda bem, foi por nós suavizada. Seus sons se abriram, adoçando os ouvidos e ganhando ritmo mais alegres, leves e divertidos.
Gosto do que herdei. Uso e abuso, e os empréstimos me contentam. Uns ficam e outros se diluem, fracos e impotentes.
Ganhei palavras para me expressar ao usar. Palavras são um jogo, um bingo de letras. Se juntam e nos revelam muito de suas origens, e também determinadas épocas, as ditas datadas. Muitas caem em desuso. Outras se enraízam, e se eternizam.
Meu avô, diziam, estava com surmenage. Credo! Prefiro mais estresse — obrigada, Tio Sam. No meu passado era assim: eu ia almoçar em ‘restorans’. Atualmente frequento restaurantes. Mas, minha refeição favorita é o café da manhã, não o pequeno almoço que veio pra cá e não colou — Rsrsrs.
Ah, as contribuições ao nosso idioma são muitas! Umas só nossas, criadas em nosso país. São presentes de árabes, tupis, e quimbundos (para citar só alguns). Oxalá não nos deixem. Quero continuar a saborear um gostoso mungunzá, muito mais apetitoso do que mingau de milho cozido, e perto de um simples arbusto, um marupá, ou papariúba — a mesma planta mas que soa com grau de importância maior.
O nosso idioma gosta de se valer de muitas palavras para expressar algo que, em outros idiomas, Gosto desses verbetes de sentido direto, completo. É uma beleza ver, ler, e entender uma palavra expressando o que, em nosso português, exige uma frase inteira. A oralidade aceita essas palavras diretas. Na escrita a exigência é maior. Temos que ter mais refinamento ao nos expressarmos, ficar atentos às normas que regem a boa escrita.
Há palavras detestáveis, por seu som agressivo que me fere os ouvidos. Deixem o vitupério pra lá, um insulto ou injúria aos ouvidos. E a tal da devolutiva, recente em minha vida? Só de ler a palavra fico apreensiva, esperando um julgamento duro que me assusta. Gente, é apenas uma devolução!
Para mim, as palavras que têm os piores sons e não são nada musicais, são fronha e, sua gêmea fraterna, bronha. Difícil crer que fronha tenha começado como um saco cheio de palha à guisa de almofada. Atualmente, é algo macio que protege o travesseiro. Com esse som horrível terei muitos pesadelos!
De bronha não vou falar. Ao citá-la já estou pecando. Oxente, que deslize! Oxalá Deus me perdoe.
Adoro música nos meus ouvidos, e quando somada à sensação de dança se torna uma maravilha. As borboletas me encantam, não só por suas lindas asas com muitas cores e diferentes desenhos, mas por sua leveza balouçante ao voar. Farfalham. É um deleite musical segui-las com o olhar. Já as mariposas são pesadas, noturnas e desbotadas. Tadinhas, condenadas à escuridão.
Acho que estou meio détraqué só pensando em palavras, nas que uso e aceito e nas que abomino e rejeito. Existem aos milhares! Mas preciso tentar dar conta do recado.
Então, amigos, tchau, bye-bye, hasta la vista baby!F4